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Para que biblioteca nas escolas?

03/05/2019

Para que biblioteca nas escolas?

Por Zoara Failla, coordenadora da pesquisa Retratos da Leitura Sim! É uma pergunta provocativa. Mas, talvez, tenhamos que revisitar as perguntas e as respostas relacionadas a esse assunto. O receio é que alguém responda que precisamos de quadras de futebol, fanfarras/bandas e laboratórios de química, e não de bibliotecas. Nada contra os laboratórios de química, as quadras e as bandas ou fanfarras, mas e os livros? Onde ficam? Pior será ouvir como resposta: para que livros se temos a internet? Sim! A alegação é provocativa, mas também serve para revisitarmos nosso discurso. Talvez seja tão óbvio para nós sua importância que descuidamos dos argumentos para sua defesa. Talvez, uma visita ao significado e às representações que temos sobre as bibliotecas possam renovar nossas teses ou trazer outras ainda mais contundentes. A memória nos trai, ao representar as bibliotecas como salas silenciosas e com várias estantes de livros. Mesas com muitos livros e somente um leitor, quase sempre de óculos. Uma senhora atrás do balcão, guardiã do silêncio e escondida atrás de diversas fichas. Um cheiro de camomila no ar, nos disse o Leo do PublishNews, em uma entrevista recente que concedi ao portal, relembrando a biblioteca que ele frequentava na infância. Mas o presente nos chama: um programa de distribuição de livros para bibliotecas (PNBE) foi interrompido, em 2015, sob a alegação de que os livros ficam em caixas e que não são lidos… Isso significa que as obras literárias não chegaram até as silenciosas bibliotecas? Ou será que as bibliotecas não “chegaram” às escolas? Números do Censo Escolar do MEC, de 2017, nos dizem que 61% das escolas públicas do ensino básico (88,3 mil instituições), não têm bibliotecas ou salas de leitura instaladas. Será que isso explica por que os livros ficam nas caixas? Provavelmente, sim! Mas não deixa claro se eles teriam sido lidos se estivessem fora delas. Essa questão envolve outras condições que necessitam ser avaliadas. A pesquisa Retratos da Leitura – Biblioteca escolar não pretende responder a essa última questão, por enquanto. Mas teve como motivação descobrir se, quando instaladas, bibliotecas ou salas de leitura, são importantes para a aprendizagem ou a performance dos alunos. Tudo isso, claro, se garantidas determinadas condições de uso e de funcionamento desses espaços. Essa avaliação deve responder à primeira questão: para que bibliotecas nas escolas? E, ainda, para que livros? E, responde com muita precisão ao correlacionar dados da pesquisa com indicadores de avaliação do SAEB e do IDEB. A pesquisa foi  encomendada pelo Instituto Pró-Livro, que está interessado em responder a essas questões e motivado, também, pela meta do Plano Nacional de Educação 2014-2024 (PNE), que estabelece a universalização das bibliotecas, em todas as escolas de ensino básico, até 2024 e pela Lei nº 12.244, de 2010, que prevê a universalização das bibliotecas escolares, até 2020. O levantamento foi aplicado em quase 500 escolas, em 17 estados brasileiros, e respondida pelo dirigente, um professor de português e o responsável pela biblioteca ou sala de leitura da escola. Com um questionário de mais de 60 questões, a OPE Sociais foi a campo para fazer as entrevistas nas escolas, no segundo semestre de 2018. O objetivo era conhecer, segundo a avaliação ou a percepção dos entrevistados, como as bibliotecas e salas de leitura estão instaladas e funcionando em escolas públicas do ensino básico com alunos do 5o ano do ensino fundamental 1. A amostra foi definida por pesquisadores do Insper, que selecionaram escolas com bibliotecas ou salas de leitura onde os alunos conseguiram as melhores notas em português na Prova Brasil (2015). Sim, foram escolhidas as melhores e com bibliotecas/salas de leitura, pois queríamos saber se essa condição poderia explicar o melhor resultado nas provas em português. Foi uma análise complexa, entregue aos pesquisadores do Insper, que conseguiram fazer essa correlação. Eles também identificaram a situação socioeconômica dos alunos dessas escolas para verificar se a situação de vulnerabilidade das escolas criam alguma variação no impacto dos atributos da biblioteca nos resultados das avaliações. As explicações sobre a demonstração da importância das bibliotecas nas aprendizagens deixarei para o Sergio Firpo, do Insper, responder na entrevista que pode ser acessada aqui.



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