Bibliotecas escolares – livros nas estantes ou leituras que conquistam leitores e promovem aprendizagem? O Instituto Pró-Livro e o Itaú Cultural convidaram Maria das Graças Monteiro Castro para comentar como as bibliotecas contribuem para a formação de leitores no Brasil, a partir do cruzamento de dados da Retratos da Leitura com a Retratos da Leitura – Bibliotecas Escolares
A quinta edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro e pelo Itaú Cultural, mostra que a partir dos 11 anos, as crianças brasileiras passam a abandonar os livros. E qual papel será que as bibliotecas poderiam estar desempenhando para a manutenção de nossos leitores mirins? Que tipo de trabalho precisa ser realizado para que o Brasil reverta esse quadro?
O Instituto Pró-Livro e o Itaú Cultural convidaram Maria das Graças Monteiro Castro, professora da Universidade Federal de Goiás e presidente da Comissão Brasileira de Bibliotecas Escolares – FEBAB, para comentar como as bibliotecas contribuem para a formação de leitores no Brasil, a partir do cruzamento de dados da Retratos da Leitura com a Retratos da Leitura – Bibliotecas Escolares. “Nós temos que encarar a biblioteca como espaço de leitura e formação de diferentes leituras textuais, para diferentes níveis de ensino, não apenas para a Educação Infantil e o Ensino Fundamental 1”, diz. “A biblioteca tem que qualificar a informação que circula no ambiente escolar e garantir o acesso das diferentes estruturas necessárias para que esse leitor se forme”.
De acordo com Graça, esse fluxo de informação vai alimentar as demandas das bibliotecas, gerando um trabalho integrado de gestores, professores e bibliotecários, no qual as possibilidades pedagógicas são definidas em um planejamento conjunto. “Nós temos que entender a bibliotecas como um espaço com vários eixos, dentre eles o espaço físico e o acervo, que nunca é resultado só de doações, ele tem que ser formado em consonância com as necessidades das unidades de ensino”, explica.
Ao tratar do acervo mais profundamente, Graça usou um dado da quinta edição da Retratos da Leitura para defender a importância de um acervo de qualidade: 68% dos entrevistados não frequentam biblioteca por falta de tempo, gosto ou proximidade. “Isso significa que a biblioteca se qualifica muito pouco. Os entrevistados manifestaram que gostariam de ler livros mais novos, atuais e mais interessantes”, diz. “No entanto, como o acervo não é foco de um estudo específico, a gente não consegue mapear as necessidades do usuário, no que ele se interessa e no que ele dispõe. Esse é outro eixo que me instiga muito e a qualidade do acervo é a alma de todo processo de formação do leitor, porque ele precisa ser pensado no leitor fim, nas suas necessidades e nas estruturas criadas em torno dela”.
Graça usou também dados da Retratos da Leitura – Bibliotecas Escolares (desenvolvida pelo IPL em 2019) para comprovar a relação direta entre bom desempenho escolar e existência de bibliotecas nas escolas e para chamar atenção da academia para um eixo de atuação no qual os formadores de bibliotecários consigam influenciar efetivamente nas políticas públicas. “Se existe uma relação de escolaridade e biblioteca, a participação do professor é determinante nas buscas dos alunos por livros. Porém, o espaço da biblioteca não pode estar relacionado apenas às tarefas, aos trabalhos, mas tem que ser também o lugar de indicações de textos literários, feitas por um mediador que se qualifique, que seja leitor para isso”, conclui.